INOUE DOS MIL LIVROS, por Alexandre Garcia

Na tranqulidade da praia de Piúma, no Espírito Santo, José Carlos Ryoki de Alpoim Inoue, fez seu milésimo livro. Isso mesmo: o livro número mil — que merece ser saudado tanto quanto o milésimo gol de Pelé. Aliás, Inoue está para a literatura brasileira assim como Pelé está para o futebol. Os outros 999 livros foram escritos sob 39 pseudônimos diferentes e agora é a primeira vez que ele assina o próprio nome. Poderia continuar exercendo a profissão de médico, mas os leitores exigiram tempo integral do escritor — o mais fértil da nossa literatura, perto do povo e longe das tertúlias.

Conheci Inoue no Fantástico. Ele é, por essência, um tema do Fantástico Show da Vida, um escritor brasileiro que vai para o livro Guinness de recordes. Depois de ter passado pelo faroeste, a espionagem, a guerra, os policiais, ele faz este milésimo livro contando as estórias de uma prostituta de luxo, de um presidente corrupto e de um jornalista para quem o preço da honestidade é a eterna vigilância. O presidente, a prostituta e o jornalista são dos Estados Unidos, nesta ficção, mas poderiam ser de qualquer outro país do mundo, de Papua-Nova Guiné às Seyschlles.

Este livro é uma trama de prender o fôlego. à medida que os acontecimentos vão se precipitando no curso dos minutos do dia, o médico-escritor Ryoki Inoue faz aumentar a frequência cardíaca do leitor. Fica difícil interromper a leitura porque a narrativa ganha a vida de um filme, um bom filme americano com os igredientes de campeão de bilheteria: sexo, corrupção, violência, política, espionagem e um final surpreendente.

O médico Inoue se revela no escritor ao descrever a reação de uma degolada: "Sentiu, de súbito, um ligeiro ardor no pescoço e, logo em seguida, uma terrível dificulade em respirar." E aparece também na doença do presidente — mas isso faz parte da estória.

O escritor Inoue se revelea um conhecedor da anatomia do poder. Mostra o dinheiro e a vaidade como propulsores das carreiras políticas. Conhecedor do gênero humano, também revela a descoberta final do homem que se tornou rico e presidente: "Às vezes eu tenho certeza de ter errado... de ter cometido uma série de imensa de erros, desde o começo, desde o instante em que desprezei a verdadeira felicidade, trocando-a por uma ambição política."

Em meio à corrupção do governo, caminha o representante da opinião pública, da consciência coletiva, o jornalista Jeff Taylor — bem-informado, insistente e inconveniente para os que não querem transparência nas ações do governo e autor de uma conclusão que serve de epígrafe deste livro e que soa como um epitáfio: "Não sei o que é pior para o Presidente — se a corrupção ou a AIDS."


FONTE:
Prefácio do livro "E agora, Presidente?", 1992 por Alexandre Garcia

 
   
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