Balacobaco,
09 de agosto de 1998 - por Rodrigo de Souza
Leão
Quando a literatura entrou na
sua vida?
Acho que nasci com a literatura nos genes.
Minha mãe era professora de português,
francês, grego e latim e dava aulas de
litreratura na Faculdade de Filosofia da USP.
Meu pai, médico, tinha como seu maior
prazer a leitura. Era mais ou menos óbvio
que eu acabasse desenvolvendo uma forte tendência
para as letras. Contudo, só vim a me
dedicar profissionalmente a escrever, aos quarenta
anos de idade.
Por que trocou a medicina pela literatura?
Formei-me na USP, fiz residência em Cirurgia
do Tórax (R-1, R-2, R-3, R-4 e R-dículo),
doutorei-me, caí no mundo, cliniquei
e operei por dezesseis anos e achei que tinha
feito já o suficiente do ponto de vista
da dívida que eu tinha para com a sociedade,
por Ter cursado uma faculdade pública.
O que eu sempre gostei de fazer foi escrever
e, assim, decidi deixar tudo de lado e me dedicar única
e exclusivamente à literatura. Não
houve qualquer motivo outro. Não me
decepcionei com a medicina, muito embora, aqui
no Brasil, ela seja bastante decepcionante:
descobre-se que aquilo que se aprende na escola
jamais conseguirá ser posto em prática
para o povo, apenas para alguns mais bafejados
pela fortuna... Isso é triste, mas é a
realidade.
Quais os escritores mais o influenciaram?
Li muito e leio muito até hoje. Sinceramente,
não sei dizer se fui diretamente influenciado
por algum escritor, brasileiro ou não.
Posso dizer, isso sim, que sempre apreciei
o Fernando Sabino, o Ruben Braga, o João
Ubaldo Ribeiro, o Otto Lara Rezende. Dos clássicos,
tupiniquins, o Machado, o Menotti, Lobato,
Cassiano Ricardo... Dos estrangeiros, principalmente
os grandes best-selleristas que, na verdade,
foram uma boa escola para mim. Posso citar
o Higgins, Ken Follet, Forsyth, Robbins, Sheldon,
Konsalik e muitos outros. Também li
os clássicos como Euclides da Cunha,
Joyce, Eça... Ler é sempre muito
bom!
Você escreveu mais
de mil livros. Falta ainda escrever sobre
alguma coisa?
A imaginação humana é ilimitada,
graças a Deus. Por isso, acho que se
Ele me der tempo, chego aos dois mil... E sempre
com temas diferentes, posso garantir.
Como percebeu que, por
ter escrito tantos livros, poderia entrar
no Guines
Book? Conte-nos a façanha.
Não percebi. Fiquei sabendo através
de uma reportagem do jornal O Estado de São
Paulo e tive a confitrmação de
que não era piada quando os repórteres
começaram a me procurar para engtrevistas.
Qual a sua definição
para romance?
Romance é uma história que fala
dos sentimentos humanos e que, em algum ponto
pelo menos, fala de amor. Na realidade, o romance
em si não passa de uma história
de Romeu e Julieta. Esta é a raiz. Tudo
quanto se escreveu, no fundo, é sobre
o mesmo tema: o amor, amor difícil,
sofrido, triste e ao mesmo tempo cheio de felicidades,
pequenas e grandes... A criatividade e a originalidade
do autor é que fazem a diferença
entre um romance e outro.
Há alguma receita para ser tão
profícuo?
Dou um curso através da Internet (http://www.vertente.com.br/cursos)
em que dou todas as dicas para se produzir
um ou vários romances.
Sob quais pseudônimos
escreveu e para quais editoras?
Fui obrigado a usar — as editoras assim
o exigiam — 49 pseudônimos, todos
americanos ou ingleses. Escrevi para todas
as editoras de pocket-books do Brasil e para
várias outras, depois que completei
mil livros escritos e publicados e que percebi
que as editoras de Pockets não queriam
saber de progredir. O resultado está aí.
Hoje em dia, infelizmente, não se vê mais
o gênero pocket nas bancas ou livrarias.
Como o crítico
recebe o seu trabalho?
Como Harold Robbins dizia, vivo bem sem a
crítica
e a crítica vive bem sem mim. Vamos
deixar as coisas assim.
Qual deve ser o papel
do crítico?
O crítico deve criticar. Porém,
para tanto, em primeiro lugar ele deve ler
a obra a ser criticada. Depois, ele deve Ter
algum conhecimento para poder criticar. E deve
ser desprendido de tabus e preconceitos. Como
se pode perceber, são qualidades um
bocado difícieis de se encontrar nos
críticos, especialmente aqui no Brasil.
Você vive de literatura?
Sim. Única e exclusivamente.
O livro está com
os dias contados?
Não. Jamais o livro será prescindido.
Pode acontecer de surgir uma nova forma de
se apresentar um livro. Mas sempre será um
livro, algo em que se lê e em que se
aprende.
A questão da quantidade e da qualidade...
Tudo que você escreveu é bom?
Se não achasse bom, não teria
publicado. E quantidade pode andar perfeitamente
passo a passo com a qualidade. Asimov escreveu
quase setecentos livros...
Ser um escritor popular é algo
menor?
Ao contrário. O escritor que vira suas
baterias para o povo, tem até mais mérito
do que aquele que se dedica a uma elite apenas.
O povo precisa Ter o que ler, precisa aprender
a apreciar o livro e a compreender que é nele
que vai encontrar o verdadeiro conhecimento.
Falam mal do Paulo Coelho. Mas, independentemente
de qualquer coisa, ele tem um mérito
enorme: encontrou a linguagem que o povo quer
e precisa ler.
Qual a principal característica
de um bom escritor?
Conseguir transpor para o papel suas idéias
de maneira clara para que qualquer um possa
entendê-lo. E, óbvio, ter boas
idéias.
Qual o conselho daria para o jovem escritor?
Escreva. Escreva todos os dias até que
a interação cérebro mãos
seja automática, seja a tal nível
que o pensamento passa automaticamente para
os dedos no computador. Não tenha medo
de escrever e de mostrar o que escreve. E,
principalmente, lembre-se que escrever é uma
profissão e não apenas um hobby.
Qual o papel do escritor na sociedade?
Qual será o maior formador de opiniões?
Não será, por acaso o escritor?
O cinema nada mais é que a transposição
para imagens de uma história escrita
por alguém. O noticiário televisivo
nada mais é que a leitura de notícias
que alguém escreveu. Tudo é feito
através da escrita. Desde as coisas
que têm relação apenas
com o mundo material até aquelas que
dizem respeito apenas ao mundo espiritual,
ao mundo interior de cada um. O escritor é aquele
que mexe com essa mídia. Que faz surgir
e divulga uma idéia, um pensamento,
uma posição política ou
filosófica. Daí, enfim, a importância
do escritor na sociedade.
FONTE: Balacobaco,
09 de agoro de 1998 - por Rodrigo de Souza
Leão