Folha de São Paulo, 30 de julho de 1993

James Bond mestiço quer conquistar Japão

Um herói mezzo brasileiro, mezzo japonês está pronto para tomar de assalto o imaginário e o bolso dos leitores nipônicos. “James Bond mestiço, mais verossímil e com filosofia de vida menos amoral que a do original.” Assim o escritor paulista José Carlos Ryoki Inoue, 47, define o herói Mário Nogaki, de aproximadamente 34 anos, que criou em julho do ano passado com dois objetivos: levantar o moral dos nipo-brasileiros que trabalham no Japão. E, é claro, vender.

Até agora disponíveis em português aos “dekasseguis” nipo-brasileiros — o termo japonês designa os que se saem temporariamente de casa para trabalhos não qualificados em outro lugar —, os livros protagonizados por Mário Nogaki ganham em outubro tradução para o japonês e chegam ao mercado principal da ilha.

O herói Nogaki é sustentado pelo dinheiro de uma multinacional, trabalha para Sato-san, um patrão japonês onisciente, pilota aviões, viaja pelo mundo e passa férias em São Paulo. E também tem uma namorada belíssima, Mayumi Takeda, “uma Luiza Brunet mestiça”. De encomenda para compensar a frustração de leitores brasileiros ilhados num país onde, nas palavras de Inoue, “eles se sentem mediocremente especializados e são tratados como subnitrato de pó de peido”.

A tradução será lançada pela editora japonesa Kyoei, com sede em Osaka. Segundo Dalva Imagawa, 55, da Bridge Consultoria Internacional, responsável pela colocação dos livros no mercado japonês, de julho para cá foram lançados três títulos da série. “Conexão Perigo: São Paulo-Tóquio”, “O Preço do Tráfico” e “Operação Amazônia” são comercializados em clubes, associações, bares e restaurantes freqüentados por brasileiros que trabalham e residem no Japão.

“ Tenho mais 15 histórias prontas protagonizadas por Nogaki”, diz Inoue, para quem produzir livros é quase uma compulsão. “Houve uma época em que eu escrevia até três livros por dia”, diz. Desde 1985, quando decidiu largar a medicina — Inoue se formou na USP —, até às 14h de ontem, Inoue já tinha escrito 1.007 títulos. Em média, um livro em menos de três dias.

A série protagonizada pelo James Bond mestiço não vai marcar sozinha a estréia de Inoue no Japão. “Onde Está Pablo Escobar?”, lançado no Brasil pela Editora Maltese em 1992, com lançamento simultâneo na Colômbia, está sendo traduzido para o japonês. Segundo Inoue, “as temáticas do livro — drogas e Aids — estão sendo descobertas pelos jovens japoneses, agora que estão viajando mais pelo mundo”.

“ Onde Está Pablo Escobar?” Faz parte de uma fase que Inoue inaugurou com seu milésimo livro, “E Agora, Presidente?” (também lançado pela Maltese). Com esse título, inspirado nos escândalos envolvendo o ex-presidente Fernando Collor de Melo, Inoue abandonou os pockets, 39 pseudônimos com que assinou os 999 livros anteriores e passou a assinar com seu nome verdadeiro obras que considera “mais bem cuidadas”. “E Agora, Presidente?” Foi escrito em um mês.

“ Não usava meu nome porque os editores achavam que José Carlos não vende e que Ryoki Inoue só os japoneses comprariam.” Inoue se diz surpreso com a entrada de seus livros no Japão. “Acho que o fato de eu constar do Guinness facilitou a entrada de meus livros no mercado japonês.” Inoue se refere à edição brasileira do “Livro dos Recordes”, onde ele consta como o autor mais prolífico do Brasil.

A produção volumosa faz com que nem o próprio Inoue se lembre do que publicou. “Depois que eu escrevo, eu esqueço o livro.” A maioria não chega à reedição. “É melhor passar para outro personagem, outra história”, diz. Sobre a vigilância da crítica, Inoue declara: “Os críticos não gostam de mim, mas eu também não gosto dos críticos. Alguns autores demoram três anos para produzir 140 páginas que a gente nem consegue ler”.

Quando as aventuras de Nogaki estiverem sendo lançadas em japonês, Inoue lança no Brasil o segundo livro de sua mais recente investida: os livros esotéricos, uma vertente que começou a explorar com “A Bruxa”, no final do ano passado. Qualquer semelhança com Paulo Coelho — “que admiro muito” —, Inoue considera mera coincidência. “Acredito que o público está cansado de ler sobre escândalos políticos”.Inspirado no espiritismo kardecista, “O Nome Não Importa” tem lançamento previsto para outubro.

FONTE: Folha de São Paulo, 30 de julho de 1993


Folha de São Paulo, março de 1991

Escritor brasileiro chega ao Guinness

José Carlos Ryoki Inoue, o escritor mais prolífico do Brasil e talvez do mundo já escreveu 791 livros de bolso, em quatro anos de trabalho. Ele é capaz de escrever dois livros de 120 páginas por dia e criou mais de três mil personagens, protagonistas de novelas de ação, espionagem e guerra. Inoue utiliza 39 pseudônimos para assinar suas obras como James Monroe, Dashiel Remington, Stephen McSucker, Bill Burse. Seu nome entrará para o livro Guinness dos Recordes. Inoue superou o espanhol Estefania, que escreveu “apenas” 725 livros de bolso. O escritor vive na localidade de Piúma, uma praia semideserta no litoral do Espírito Santo. Tem uma casa de frente ao mar e trabalha doze horas por dia. Ganha US$ 5 mil por mês, o equivalente a US$ 200 por livro.

FONTE: Folha de São Paulo, 30 de julho de 1993

 
   
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