Jornal
da Ericsson,
28 de março de 1996 - por Marcos Mesquista
1.) Quando começou
a escrever? O que mais te influenciou?
Sempre gostei de escrever. Desde muito jovem,
quando ainda estava no curso primário. Porém, nunca pensei em escrever profissionalmente,
ou seja, não me passava pela cabeça a idéia de me tornar
um escritor. Isso ocorreu em 1986, ou seja, há dez anos, quando escrevi
um livro para uma editora do Rio de Janeiro e recebi a proposta de continuar
a produzir para eles. Foi aí que decidi fazer algo que havia muito vinha
fermentando em minha cabeça: largar a medicina e me dedicar à literatura.
Creio que não houve uma influência direta nessa minha decisão,
diferente de um certo cansaço numa profissão que não vem
sendo valorizada no Brasil desde 1967. Ser médico, há três
décadas atrás, era realmente alguma coisa. Hoje, não passa
de uma ocupação meramente mercenária em um país
onde o fato de se estudar no mínimo 18 anos para ter um diploma não
implica em qualquer vantagem material, social ou mesmo intelectual.
2.) Qual foi seu primeiro
livro? Quando e por qual editora foi lançado?
Chama-se os Colts de McLee, é um western com 128 páginas e foi
lançado pela Editora Monterrey, Rio de Janeiro, em 03/06/86.
3.) Que tipo de livro escreve,
que gênero
de literatura? Existe algum estilo que o sr.
goste mais? Qual?
Desde sempre escrevi sobre qualquer tema de
ação. Desde banguebangue
até ficção científica, passando por espionagem,
policiais, aventuras, guerra, amor... Atualmente, tenho me dedicado apenas
a romances maiores (mais de 200 páginas) mas continuo escrevendo sobre
temas de ação. Às vezes, em meus romances, entra uma boa
dose de misticismo e/ou esoterismo, como é o caso de A Bruxa, O Nome
não Importa, Do Mago ao Louco, Herança Maldita e, o último,
que ainda está para sair, Magia Cigana. Quanto a estilo, tenho o meu
próprio, como todo escritor que se preze. Quanto aos estilos literários
de outros autores, prefiro aqueles que têm relação com
estórias de ação, política e misticismo.
4.) Em qual estilo o sr. escreve mais?
Estilo, só o meu mesmo. Quanto a gênero, qualquer um. Depende
da encomenda da editora.
5.) O público para o qual o sr. escreve é variado?
Sim, é bastante variado, mesmo porque eu escrevo sobre os mais variados
e mais diversos temas e gêneros. Há para todos. tenho tido leitores
de todos os níveis sócio-econômico-culturais.
6.) No Guinness Book — o livro dos recordes,
o sr. mantém desde 1991 a posição
de escritor com maior número de títulos
publicados no mundo, 1.039. Em entrevistas à imprensa,
o sr. afirmou que escreve um livro em poucas
horas. Como consegue escrever tão rápido?
A resposta a essa pergunta está em meu último livro publicado,
O Caminho das Pedras, onde eu falo sobre a metodologia que utilizo para criar
uma estória e transportá-la para as páginas de um livro.
Quanto a escrever um livro em poucas horas, o último jornalista a comprovar
o feito, foi Mr. Matt Moffett, do Wall Street Journal, NY, que veio me entrevistar
e depois voltou para completar a entrevista e comprovar se era verdade que
eu poderia escrever um thriller em seis horas. Sentei-o ao meu lado, no computador
e cinco horas e meia depois, entreguei-lhe o original de um romance em que
ele mesmo era o principal personagem, com 210 páginas em formato 14
x 21.
7.) Qual é a diferença
entre escrever um romance e um policial,
por exemplo?
Basicamente, não há muitas diferenças. Ambos precisam
de pesquisa, ambos precisam de idéias e de processo de criação.
Contudo, o policial necessita trama e suspense muito mais do que um romance
de amor. Essa diferença é que fica por conta da experiência
e da capacidade de criação do autor. Na verdade, é um
pouco mais complicado criar um crime do que um namoro. Mas nada supera, em
dificuldades, escrever sobre o Oeste norte-americano. Os Westerns são
muito mais difíceis porque precisam, além da trama, do suspense
e do recheio de amor, muito conhecimento sobre a história dos Estados
Unidos além de conhecimentos técnicos sobre armas, cavalos, trens,
cowboys, índios e etc.
8.) Algum de seus livros
foi escrito em circunstâncias
engraçadas ou curiosas? Quais?
O mais engraçado, creio que foi o que aconteceu com o livro Onde está Pablo
Escobar?, que foi produto de uma aposta com o editor. Ele dizia que eu não
seria capaz de escrever um livro sobre o tema antes que o Dom Pablito se entregasse
ou fosse apanhado pela Polícia. Escrevi o livro em uma semana e Pablo
Escobar ainda demorou mais de um ano para ser morto.
9.) O sr. lançou recentemente um livro
sobre técnica de escrever. Do que se
trata?
Trata-se de comentários sobre a metodologia que eu uso para criar uma
estória. Vai desde a idéia até a execução
final do original, passando inclusive pelo projeto literário, a forma
como ele deve ser apresentado para o editor, e os cuidados com os contratos
editoriais. Não é um manual mas serve para orientar quem queira
escrever.
10.) Dentre todos os livros,
qual é o
seu favorito e qual é o mais vendido
até hoje?
Creio que o meu favorito é O Nome não Importa. Não sei
dizer qual é o mais vendido até hoje principalmente porque as
editoras, aqui no Brasil, não possibilitam um controle sobre as vendas.
O que implica em que o autor também não consiga controlar o quanto
deve receber como direitos autorais. Coisas que mostram que ainda estamos no
Terceiro Mundo e que aqui, a imensa maioria das editoras deveriam ser chamadas
mais apropriadamente de mercadoras de originais. A arte de editar livros parece
ser, no Brasil, prerrogativa dos editores mais velhos, dos pais dos editores
que hoje estão pela aí — como diria o nosso saudoso Stanislaw
Ponte Preta.
11.) Como o sr. vê o mercado literário
no Brasil? Os brasileiros estão lendo
mais, da mesma forma que estão indo
mais a teatros e cinemas?
Não possuo dados absolutamente confiáveis quanto a um aumento
de frequência em teatros e cinemas. Tenho, isso sim, visto muitas companhias
teatrais fechando as portas e cinemas sendo transformados em templos da Igreja
Universal do Reino de Deus... Por outro lado, o mercado literário brasileiro,
na minha opinião, poderia ir muitíssimo bem se os nossos editores
(ou pseudo-editores), comprassem menos lixo internacional em Frankfurt e em
outras feiras badaladas e investissem um pouco mais nos escritores brasileiros
que os há e muito bons.
12.) Quais são os
seus planos para o futuro? Mais livros?
Sim, mais livros. Só que eu espero poder escrever no máximo dois
ou três livros por ano e, de preferência para editoras no estrangeiro.
Estamos trabalhando nesse sentido e agora, com a Internet, as coisas parecem
que ficarão mais fáceis. Só para ter uma idéia,
basta ver como são poucas as editoras brasileiras que já estão
nessa fenomenal rede de comunicação. A África do Sul tem
pelo menos uma dúzia...
FONTE: Jornal
da Ericsson,
28 de março de 1996