Redação
FT, 29 de abril de 1995 - por Silvio
Atanes
James Monroe,
George Fletcher e Bill Purse. Quem responderia
corretamente
onde moram esses escritores de best-sellers?
Nova York, Londres ou Los Angeles? Errado.
Todos eles moram na cidade litorânea
de Piúma, no Espírito Santo,
entre Guarapari e Vitória, e atendem
pelo nome de Ryoki Inoue.
Era uma vez um médico desiludido
com a profissão e a cidade grande.
O cenário: São Paulo, 1986.
José Carlos Ryoki de Alpoim Inoue,
médico formado pela USP, paulistano
da Vila Mariana, descendente de japoneses
e portugueses, não agüenta mais
a rotina de plantões. Não tem
mais ânimo para cirurgias de tórax,
sua especialidade. Não suporta mais
passar quatro horas por dia dirigindo, de
casa para o trabalho e vice-versa. “São
Paulo me expulsou”, confessa
A trama: o que fez ele?
Matou a família
e foi a cinema? Não. Escreveu um livro.
Decidido a abandonar o bisturi, Ryoki compra
uma máquina de escrever “bastante
usada” e datilografa, em um mês,
o bangue-bangue “Os Colts de McLee”,
seu primeiro pocket-book, hoje mais conhecido
como pulp fiction. Envia os originais a uma
editora carioca especializada no gênero,
que passa a publicar tudo o que ele escreve.
Com uma idéia na cabeça e
uma Olivetti nas mãos, ele se demite
do hospital onde trabalha e começa
a dar vazão à sua fértil
imaginação, que o levaria a
ser incluído no famoso “Livro
Guinness dos Recordes”, como o homem
que mais livros escreveu no planeta. Essa
façanha foi conseguida depois do milésimo
volume. Da sua incansável cornucópia
de letras, saíram espiões,
aventureiros, pistoleiros do Velho Oeste,
detetives e traficantes, em títulos
como “A Ilha dos Mercenários”, “O
Dez de Ouros” e “Uma Missão
para Wallace”. Todos com pseudônimos
comerciais, e que venderam cerca de 15 milhões
de exemplares.
O começo foi difícil. Recebia
US$ 20 por livro. Por isso, passou a escrever
um livro por dia, chegando ao máximo
de três em 24 horas, com uma média
de 20 por mês. “Percebi que,
aumentando o meu ritmo de trabalho, poderia
ganhar mais dinheiro”, lembra Ryoki.
Assim, ele dominou o mercado de livros de
bolso no Brasil. Mudou-se para o Espírito
Santo e lá instalou sua usina de aventuras.
Hoje, arquivados no seu computador, estão
60 megabytes, mais de 12 mil personagens,
todos frutos de muita pesquisa histórica
e geográfica. “Procuro viajar
e estudar muito, para saber do que estou
falando.”
Epílogo: depois do milhar de pulps,
ele se sentiu seguro para, em 1992, começar
a assinar o nome de batismo e passou a escrever
somente romances. Nesse mesmo ano, produziu
uma série de quatro livros sob encomenda,
para um empresário japonês. “Escrevi
em português, para elevar o moral dos
dekasseguis -- os imigrantes brasileiros. “Era
uma espécie de James Bond nipo-brasileiro,
chamado Mário Nogaki, especialista
em defesa pessoal e espionagem industrial.
Vendeu 50 mil exemplares.”
De lá para cá, escreveu 34
livros, incluindo “A Herança
Maldita”. Com média de 8 mil
cópias vendidas -- o primeiro, “E
Agora, Presidente?”, vendeu 15 mil,
um sucesso--, todos passaram da primeira
edição. Hoje, aos 48 anos,
casado com a artista plástica francesa
Nicole Kirsteller, tem três filhos.
Quando não está escrevendo,
está lendo -- seu passatempo predileto
-- ou cozinhando.
“Leio de tudo. Desde os clássicos
-- Goethe, Joyce, Eça de Queirós
--, passando pela mitologia grega, best-sellers
-- Frederick Forsythe, Ken Follet, Sidney
Sheldon etc. Esses, leio por obrigação.
Para a hora do recreio, tenho muito prazer
de ler Rubem Braga, Fernando Sabino, Drummond,
João Ubaldo Ribeiro. E também
o Pato Donald.”
Ele se considera um autor
eclético: “Dentro
do universo do ficcionismo, romance policial,
faroeste, até ficção
científica, estou apto a escrever
qualquer coisa.” Por fim, compara sua
obra com a fast-food: “É uma
leitura feita para ser comida rapidamente.”
FONTE: Redação
FT, 29 de abril de 1995 - por Silvio
Atanes