Brasil,
uma grande lagoa
Já na apresentação
dos candidatos deu para notar a diferença.
Um debate entre candidatos à Presidência da República,
meus amigos, é coisa séria. Implica no mínimo num certo aplomb.
E isso, tanto Alckmin como Cristovam demonstraram. Já HH...
Não deixa de ser uma falta de respeito para com o eleitorado apresentar-se
usando jeans e uma das famosas – pelo menos esperamos e imaginamos que
não seja sempre a mesma – blusinhas brancas de babadinhos rendados.
Até parece promessa para mãe-de-santo! Está certo que
HH não precisaria estar vestindo Dior, Leonard nem mesmo um modelito
Daspu. Mas deveria se apresentar de maneira um pouco mais condizente com o
evento que esteve vivenciando. Sua equipe de aspones deveria ter lhe contado
que um debate televisivo não é a mesma coisa que o corpo-a-corpo
nas ruas.
Mas, deixando de lado as críticas sobre a indumentária da top HH,
acho que todos os que assistiram o debate tiveram a oportunidade de concordar
com o Bufo hirsutus: a virulência da onça alagoana mal
se conteve. Aliás, só não extravasou de vez por causa
da ausência
batraquial. Se ele ali estivesse, o Paranoá seria pequeno para tanta água
e lama esparramada.
Sem a majestática presença do Bufo rex, o encontro de
candidatos – mesmo
porque debate, pelo menos para mim, tem uma outra conotação,
algo assim como um jogo de perguntas e respostas rápidas, inteligentes,
objetivas e precisas, não uma exposição de idéias
em que as perguntas muitas vezes não são mais do que pequenos
e delicados ganchos aproveitados para emendar explanações
completamente fora do assunto proposto – até chegou a parecer
um encontro de compadres. Exclua-se a comadre, uma vez que HH não fez
mais do que lamentar e condenar o passado, aproveitando para atacar FHC sempre
que atacava Lula,
obviamente visando solapar o terreno pisado por Alckmin.
O jogo foi no mínimo interessante. Cristovam e Alckmin pareciam estar
combinados, jogando no mesmo time. Um dava a deixa e o outro emendava. Bastante
civilizada a atitude. Não duvido que, se milagres existirem e Alckmin
chegar ao Planalto, este convide Cristovam para uma pasta. Provavelmente a
da Educação, tendo em vista que é este o foco – e
praticamente o único tema – da campanha do ex-reitor da UnB. Na
verdade, não seria uma má aquisição.
Enfim, num balé bem orquestrado, os dois conseguiram expor minimamente
seus planos de governo. Pena que o Bonner tenha sido tão exigente em
questão de contagem de tempo e, com isso, acabamos – nós
os telespectadores – ficando com uma desagradável sensação
de coito interrompido.
Já HH mostrou bem a que veio. Sua incontestável virulência – queixa
principal do Bufo pseudo-rex – transpareceu com terrível
e triste nitidez. A mágoa de sua expulsão do PT saía por
todos os poros, deixando a clara impressão de que, com ela, o revanchismo
seria uma meta.
Cristovam deu a tônica do encontro – recuso-me a chamar de debate – quando,
ao encerrar, pediu votos para qualquer um que não seja o presidente-candidato,
para que seja possível um segundo turno.
Enquanto isso, o Bufo hirsutus coaxava em São Bernardo – segundo
ele, a terra onde nasceu politicamente – ao lado de todo o seu bando,
incluindo dois mensaleiros: o professor Luizinho e José Mentor. Absolvidos
das acusações não por uma questão de justiça,
mas sim de política. Podre, evidentemente.
E entre as muitas coisas que coaxou, saiu-se com esta pérola: “Ainda
vou publicar um livro sobre alguns articulistas nesses quatro anos de governo
para ver a quantidade de maldades” perpetradas contra ele e sua família.
Seria interessante que fizesse isso mesmo. E que esse livro fosse realmente
publicado. Porém, sem revisão e sem copy-desk. Que é para
que a posteridade veja a que ponto chegamos. Eleger um presidente assim, até que
passa. Num momento de revolta, de tentativa de mudança, admite-se. Mas,
depois de quatro anos de desencantos e desencontros, repetir o erro... Aí,
já nem mesmo é burrice. É a resignação,
a admissão da incompetência de eleger.
Ou, simplesmente é uma questão de fraternidade, de espécie.
Afinal de contas, para a sapa, a coisa mais bonita do mundo é o sapo.
E, segundo as pesquisas eleitorais, pelo menos 50% do povo brasileiro pertence
ao gênero Bufo.
Bufo stultus.
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