Vaidade Mórbida
Há semanas venho estudando alguma coisa para poder desenvolver meu próximo romance. A história toda deverá girar em torno da vaidade. Sim, o tema será exatamente este: vaidade esta vista por diversos e diferentes ângulos, sob seus múltiplos aspectos. A idéia é tentar mostrar que essa característica do ser humano, na realidade, é apenas mais um foco de conflito – ou seja, de infelicidade e de angústia.
E, de repente, leio a notícia sobre a bela modelo de 21 anos – meu Deus, que criança, ainda! – Carolina Reston Macan. A menina morreu, vítima de falência múltipla dos órgãos causada por uma deficiência global de nutrientes e, conseqüentemente, da resistência orgânica. Resumindo: morreu de fome.
Obviamente, a causa mortis seria essa: falência múltipla dos órgãos. Pelo menos é o que o legista – ou patologista – deve ter marcado em seu atestado de óbito. Mas a causa-base, o verdadeiro motivo de Carolina ter tão cedo deixado o convívio de seus parentes, amigos, admiradores e quantos mais tiveram o privilégio de vê-la, ainda que apenas em fotografias, não é outra senão a vaidade.
No caso, uma vaidade mórbida, que a levou a sacrificar de forma ultra-radical um dos prazeres da vida: o ato de comer. Simplesmente, a moça passou fome – voluntariamente – até morrer.
Porém, não a podemos culpar. A vaidade mórbida é uma doença e, como tal, teria de ter sido tratada.
A culpa seria, então de todos aqueles que a viram definhar e nada fizeram? Creio que também não. A culpa, a verdadeira culpada é a vaidade. Não a vaidade da própria Carolina – esta era um quadro psicopatológico – mas sim a vaidade de uma sociedade consumista como um todo, que não se satisfaz jamais e que obriga, que leva pessoas como essa modelo a prescindir de sua saúde – tanto física como psíquica – até chegar ao extremo da morte.
Certos estiveram os espanhóis que proibiram modelos excessivamente magras de desfilar. Se isso “pega”, teríamos uma forma – ainda que débil – de impedir que tantas jovens cheias de vida e de sonhos acabassem doentes.
Desta vez, no caso da pobre Carolina, a mídia se manifestou pelo menos um pouco mais do que de outras vezes. Tantas vezes, tantas mortes...
Talvez a sociedade consumista abra os olhos. Talvez deixe de dar tanta importância à vaidade e passe a dar um pouco mais de importância à vida.
Talvez deixe de consumir muitas jovens.