Ano II - Numero 9 - Julho de 2011 - Dicas e Artigos sobre Manifestações Artisticas e Literarias

Quero me tornar um escritor

Frequentemente tenho recebido e-mails – principalmente de jovens – dizendo que gostariam de ser escritores e o que deveriam fazer para, em definitivo, abraçar essa profissão.

Acho que se me perguntassem o que deveriam fazer para tornarem-se médicos, advogados ou engenheiros, a resposta seria muito mais fácil. Afinal, são daquelas profissões chamadas de “convencionais” que estaríamos tratando. Profissões cujo sucesso depende, em grande parte, de dedicação, esforço, estudo, aprimoramento e – é claro – um pouco de sorte. A tal teoria “em se plantando, tudo dá”.

Não se pode dizer o mesmo para quem deseja ser escritor, mormente num país como o nosso, cuja população praticamente não lê e no qual as coisas referentes à arte são quase sempre vistas através de um olhar enviesado e desconfiado.

Há vários motivos para que essa tão difícil pergunta me seja feita. Surpreendentemente, o mais comum é que os jovens imaginam que a vida de um escritor seja muito semelhante à de uma dessas celebridades do cinema e da TV, que vivem cercadas de holofotes, sempre com as burras cheias de dinheiro, com as carícias da fama e as comodidades da fortuna.

Ledo engano... Devo salientar que, em primeiro lugar, “fama” não obrigatoriamente significa “fortuna”. Segundo, “Paulos Coelhos” são avis rarae, não se encontram pelas esquinas. Um escritor que venha a vender milhões de exemplares, especialmente brasileiro, é um fenômeno editorial que surge na proporção de um em cada século. E, note-se bem, esse sucesso financeiro quase nunca está atrelado a uma excepcional qualidade literária, o que quer dizer que o mérito é muito relativo e tal sucesso está muito mais relacionado à área de marketing do que a qualquer outra coisa.

A esses aspirantes a escritor que vislumbram uma vida de holofotes e dinheiro saindo pelo ladrão, quero dizer apenas que a realidade da literatura é bem diferente... Pode ser que aconteça a fama, pode ser até que a deusa Fortuna venha a lhes sorrir. Porém, o mais provável é justamente o oposto. Essas duas entidades – Fama e Fortuna – haverão de lhes cobrar e muito. É preciso preparo, dedicação, perseverança e, sobretudo, fé e investimento em seu próprio trabalho.

Estamos no Brasil e, como já disse, nesta abençoada Terra de Vera Cruz, as editoras – e editores – não se interessam pelos novatos, não se arriscam em investir a não ser em autores que já contem com um público fiel – e numeroso – capaz de garantir as vendas de livros.

Ao autor incipiente não resta alternativa senão “bancar” a sua própria edição.

A princípio, isso pode parecer cruel, mas no frigir dos ovos, a coisa não é tão ruim quanto parece. Em primeiro lugar, o autor passa a ter absoluto controle sobre a sua publicação, desde o modo como foram feitos a revisão e o copidesque, até a forma de divulgação e vendas dos exemplares.

Boje em dia, com as facilidades que nos apresenta a Internet – como por exemplo as vendas através de livrarias virtuais e divulgação em massa de qualquer produto, livros inclusive – aumentamos em muito as possibilidades de venda daquilo que produzimos. Resta au jovem escritor escolher uma editora que disponibilize divulgação e e-commerce de maneira decente e honesta. Fugir do esquema das grandes distribuidoras é, hoje em dia, uma obrigação, pois pagar 65% do preço de capa para que o livro seja distribuído é, na minha humilde opinião, um verdadeiro absurdo.

Contudo, como digo sempre, a vaidade do autor é um dos fatores que mais atrapalham a “recuperação” do dinheiro investido na produção de seu próprio livro. E isso porque ele quer ver seu livro nas prateleiras de grandes redes de livrarias, quer que um leitor – na maior parte das vezes um leitor amigo – chegue a uma grande livraria, peça seu livro e seja prontamente atendido. É uma vaidade justificada? Até pode ser... Mas tem um preço e este é, via de regra, bem alto. Há livrarias que chegam a cobrar R$900,00 por semana para que um livro seja exposto...

É o mercado... São as novas regras, não há o que fazer...

O autor deve investir em seu trabalho da mesma maneira que um dentista, ao se formar, tem de investir na montagem de seu consultório. Afinal, é uma profissão que está sendo abraçada e isso tem de ter um custo, tem de obrigar a um investimento.

E exatamente por se tratar de uma profissão, da mesma forma que um dentista não vai tratar um canal de graça, um trabalho literário não pode ser gratuito. Daí eu ser frontalmente contra a mania que surgiu entre os novos escritores de escreverem de graça em blogs, por exemplo, com a desculpa de que, dessa maneira, estarão divulgando suas obras. Tudo bem publicarem graciosamente um ou outro artigo, até mesmo elegerem um blog para publicar de graça artigos e comentários. Mas daí a abrirem para quem quiser ler um romance inteiro, o passo é muito grande e, no meu entender, altamente prejudicial.

O novo autor, seja ainda jovem ou já encanecido e maduro cronologicamente, tem de acreditar em seu trabalho e investir nele.

Porém, antes de tudo, tem de ter a certeza de que realmente deseja tornar-se escritor, de que quer abraçar a atividade literária como profissão e não apenas como um hobby.

Tem de saber que precisa estar preparado técnica e culturalmente para poder ter a segurança de não escrever bobagens e precisa estar consciente de que a vida de escritor, mormente no Brasil, não é nada fácil.

Sendo assim, a resposta à pergunta do título deste artigo fica mais fácil de ser respondida:

Se você quer se tornar escritor – mas um escritor de verdade – comece fazendo um curso sobre o assunto. É de extrema importância “estar por dentro” das técnicas e truques para se escrever um livro que seja, ao menos, economicamente viável. Siga persistindo e acreditando em seu sonho. Isso significa não ter medo de “chutar o pau da barraquinha” e até mesmo trocar de vida e de ambições.

Por fim, procure estar amparado por editor que pense no autor. Que veja o autor e seu trabalho e que seja sincero em seus julgamentos.

Então, terei muito prazer em lhe dar um abraço de boas-vindas a este mundo fantástico, o mundo da literatura e lhe dizer:

– Bem-vindo, colega! Lutaremos juntos nesta terrível guerra que decidimos enfrentar!

Por Ryoki Inoue

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